MORREU DE ILUSÃO
De repente me dei conta de que estava morrendo.
Percebi que estava deixando de ser humano para me tornar um protótipo de "santo" falsificado.
Fui sendo amordaçado e asfixiado lentamente sem me dar conta de que contribuía para isso.
Comecei me incomodando por não participar de congressos, eu achava que era preciso falar para grandes públicos, quanta ilusão!
Não me dava conta que era meu ego que exigia vitrine e palco.
Comecei a prestar atenção no que os outros faziam e falavam para fazer igual, queria um lugar ao sol, ou um lugar no palco da minha vaidade.
Tentei imitar alguns, mas sou péssimo imitador.
As falas distantes do coração e da vida prática me incomodavam, embora muitos companheiros realizem inestimável trabalho nesses eventos, mas a coisa era comigo.
Me encontrava na UTI da ilusão, pois acreditava que o trabalho com os jovens e crianças devia ser a prioridade para a mudança do mundo.
Estava me matando pouco a pouco.
E mesmo quando realizava uma grande participação nos eventos logo era posto de lado, porque eu não dizia o que as pessoas queriam ouvir, o mesmo do mesmo.
E mantive a minha consciência em estado de coma por muito tempo, deixando que o ego assumisse o controle, e eu me sentisse ofendido.
Percebia que nos grandes eventos de jovens no meio espírita eu era preterido, embora ouvisse muitas vezes: Ninguém fala melhor do que ele para os jovens...
Havia uma velada discriminação, me disseram que alguns "dirigentes" afirmavam que eu era perigoso para os jovens, pois os incitava a ser jovens.
Vai que em algum evento desses oficiais eu abrisse a boca, para dizer que os pais devem amar seus filhos como eles são e deixar de lado a ideia de tratá-los como massinha de modelar? Que devemos ir ao mundo dos jovens e não querer impor o nosso mundo a eles, ou de repente dizer: os homoafetivos vivem uma experiencia evolutiva e devem ser amados e respeitados.
Um dia me aconselharam a não tocar em assuntos sobre homoafetividade numa palestra, porque os dirigentes eram conservadores.
Tive compaixão de quem me deu esse conselho, porque dirigentes espíritas que não aceitam ouvir abordagens sobre a vida verdadeira não tem condições de atender a alma humana.
Algumas vezes o meu ego me pediu para desistir, para aceitar o convite do mundo laico e escrever para outro público.
E o estado de coma egoico prosseguiu por muito tempo, e confesso que só agora estou saindo da internação psíquica que me impus, da quase morte.
A cura veio, e foram as crianças e jovens que me tiraram desse estado patológico e mental adoecido em que me encontrava.
Foram os jovens que me resgataram, pelo respeito que eles têm pelo meu trabalho.
São os pais que me procuram e me pedem para não desistir.
Eu já estava agonizando e quase jogando a toalha, mas os jovens colocaram um respirador na minha alma e consegui sobreviver.
Decidi então enterrar as ideias que tinha sobre movimento espírita e congressos.
Nunca vou falar como os outros, porque não penso como os outros.
Não existe encontro mais importante do que aquele que se dá de alma para alma.
Estou em recuperação e praticamente curado.
Hoje sepulto meu ego, e escrevo em seu epitáfio:
"Morreu de ilusão, acreditando que existem homens que podem falar por Deus"
Adeilson Salles