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segunda-feira, 29 de junho de 2020

QUANDO MATAMOS NOSSOS FILHOS

MORTES EMOCIONAIS
 
Fiquei pensando se deveria escrever sobre um assunto tão doloroso como esse, mas a vida não é dolorosa?
Viver dói, e dói muito.
Escândalos acontecem e precisamos falar sobre eles para que possamos refletir sobre as causas que levaram a essa ou aquela situação.
Normalmente ficamos na superfície do problema e somos sempre muito cruéis na condenação dos envolvidos.
Uma mãe matando o filho é sempre uma notícia que amedronta e aterroriza, pois na ordem natural em que a vida se apresenta nós temos nas mães a imagem de quem dá a vida.
Mas o drama do pequeno Rafael e da sua mãe Alexandra foge ao que acreditamos ser normal na rotina de uma vida comum.
Mas, o que é normal, numa sociedade como a que vivemos hoje quando centenas de crianças são assassinadas todos os dias pela ganância de um sistema que tritura vidas?
Nada justifica um crime bárbaro como esse, mas o que leva uma mulher a matar seu próprio filho?
Quais eram as prioridades de Alexandra em sua compreensão de vida?
Além dos complexos e relevantes conflitos emocionais de que ela deve ser portadora, da possível educação opressora que tenha recebido, será que existem componentes espirituais para um crime como esse?
Todos os fatores citados acima, certamente são ingredientes de uma história terrível como essa.
Se soubéssemos de toda a história dessa mãe encontraríamos muitos dramas, mas ainda assim não teríamos um argumento plausível para justificar o assassinato do próprio filho.
Sem dúvida alguma existe um drama de outras vidas como pano de fundo para esse final trágico.
Mãe e filho já se encontraram em outras situações como personagens de outras histórias, e se reuniram outra vez para o aprendizado comum.
Quem era o devedor, quem era a vítima de uma vida passada?
Quem bateu, quem lesou, quem traiu?
Nunca saberemos, mas precisamos compreender que as leis de Deus não se pautam pela superficialidade dos dramas e crimes que praticamos.
Mãe e filho podem ter se acumpliciado em ações levianas em outras encarnações.
Poderíamos ficar listando uma série de suposições do envolvimento entre essas duas criaturas, mas não passariam de suposições.
A morte de Rafael não aconteceu no dia em que a mãe lhe asfixiou, ela o matava pouco a pouco de forma inconsciente, quando não sabia lidar com a aversão pelo filho que surgia sútil em sua alma. 
Ele por sua vez, mesmo como criança, trazia traços comportamentais que revelavam sua condição de espírito imortal com uma história pretérita.
No mesmo lar se reuniam, Rafael e Alexandra, dois filhos amados de Deus em resgate e aprendizado comum.
Certamente o contexto de vida dos dois tornou-se mais desafiador, num mundo em que a demanda pelo prazer torna insensível o coração dos adultos, que deveriam priorizar a missão da paternidade.
Quando encarnamos nos embriagamos pelo licor capitoso das ilusões e muitos resvalam na irresponsabilidade e no crime.
Como mãe, Alexandra tem toda responsabilidade, mas um olhar isento de uma presunção acusadora nos convidará a ter piedade dessa mulher.
Daqui algum tempo, quando a maturidade promovida pela dor chegar ela levará dentro de si o remorso e a culpa, o que será sua maior condenação.
As prisões dentro da alma humana são as mais inexpugnáveis e cruéis.
Para Rafael e Alexandra as minhas orações, para que Deus em sua magnanimidade oportunize uma nova encarnação reparadora para esses dois corações.
Para nós, pais, mães e educadores esse escândalo deve nos servir de alerta para que não matemos emocionalmente nossos filhos pela omissão diante do processo educativo.
Que existam menos órfãos emocionais dentro dos lares de pais indiferentes.

Adeilson Salles
  
  
 






4 comentários:

  1. Todas as vezes em que agimos pensando apenas nos nossos desejos mais íntimos, corremos o risco de pesar emocionante e fisicamente os que caminham conosco. Certamente, os vínculos que criamos funcionam como algemas que carregamos por outras vidas, até a conquista da harmonia afetuosa com aqueles desafetos que geramos. Seu artigo nos convida à reflexão sobre o que estamos fazendo com as vidas que Deus nos confiou para partilhar está encarnação. Parabéns e gratidão pela lucidez. Beijo!

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  2. Ótima exposição. Que Deus em sua infinida bondade e misericórdia ampare ambos!.

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  3. Texto maravilhoso e esclarecedor!Gratidão, Adeilson, pelos ensinamentos contidos.

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  4. Fiquei pensando nos homicídios e nos suicídios emocionais. Me parece que antes de ocorrências tão definitivas os envolvidos já passaram por um longo história de pequenas mortes que culminaram em um ato trágico.

    Há de se pensar que papéis de apoio, de sustentação e de enfermagem espiritual deixaram de ser realizados pelo entorno.

    Vizinhos, primos, colegas de trabalho e de escola talvez possam cumprir papéis primordiais nesta rede de sustentação.

    Como temos olhado para os que estão próximos de nós?

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