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segunda-feira, 22 de junho de 2020

VIVENDO, APRENDENDO E PERDENDO

PERDAS E GANHOS

Afinal, o que é a vida?

É um ter e não ter, segurar e largar, iludir e iludir-se, amar e não ser amado.

E a vida é tantas outras coisas que não podemos mensurar.

Mas ela é sempre o fio da navalha, que nos corta a carne, que sangra a alma.

A vida é mutação constante, ela nos dá e nos tira, nos acomoda e desacomoda,

é comédia e tragédia.

A querida escritora Lya Luft nos fala com muita propriedade desse sentimento de impermanência das coisas que estão em nós e passam por nós:

"Não queremos perder, nem deveríamos perder: saúde, pessoas, posição, dignidade ou confiança. Mas perder e ganhar faz parte do nosso processo de humanização."

Pois é, para ser humano é preciso aprender a desapegar de tudo e de todos.

Um dia a gente acena para alguém que parte, no outro somos nós que partimos.

É um processo reiterado de perdas e ganhos.

Tudo passa por nós, mas nada fica, a não ser amores, dores, espinhos e flores.

Já se perde desde a infância, são os dentes de leite que caem contra a nossa vontade e na boca fica o vazio.

Se vive a tortura do dentinho mole, que balança numa lenta despedida e vai nos revelando a primeira experiência de não poder reter o que mais desejamos nessa fase, os dentes.

A boca fica vazia e murcha, e com ela a saudade do assovio que se vai junto com os dentes.

Já não se assovia mais, apenas se sopra, fica aquela janelinha na boca.

A janela que será fechada por outra dentição.

Ainda na infância perdemos os aminais de estimação, que partem para o céu dos cães e gatos.

E a vida vai levando e trazendo amores e dores.

Nessa pantomima de perdas e ganhos deveríamos valorizar o momento, o que é nosso na hora presente, porque daqui a pouco ninguém sabe.

E se alguém nos perguntar: O que você tem agora, o que lhe pertence?

Podemos dizer com relativa certeza, possuo apenas o que sinto.

Na verdade, não temos certeza de nada, as certezas pertencem aos religiosos e aos políticos em véspera de eleição.

A vida nua e crua é a canção da impermanência, um concerto de perdas e ganhos.

Milton Nascimento estava inspirado e muito humanizado quando escreveu a letra da música Maria Maria, e nos disse:

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida

Começamos a vida perdendo os dentinhos, depois aprendemos a contragosto a "perder" as pessoas e as situações nas quais nos acomodamos.

A vida é um desassossego, um tira e põe.

Uma dinâmica que nos empurra para a humanização e se humanizar dói.

O fato é que tudo nos é emprestado, o que não queremos devolver como crianças birrentas a vida vem e toma.

Então sigamos com essa estranha mania de ter fé na vida.


Adeilson Salles

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