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quarta-feira, 8 de julho de 2020

PAIS SURDOS, FILHOS MUDOS E OS INFLUENCERS DE COISA NENHUMA

PAIS SURDOS, FILHOS MUDOS



A pandemia levou boa parte das pessoas para dentro de seus lares, com isso, muitos pais precisaram conviver mais de perto com seus filhos.
E foi nessa convivência que os genitores descobriram que o problema não era a escola, mas os filhos que foram mal educados por eles.
Antes da pandemia vivíamos no automatismo dos compromissos, atendendo a demanda do mundo exterior e não tendo tempo para atender as urgências de casa.
Todos os membros do grupo familiar saíam para cumprir seus compromissos, e quando se reuniam em casa não se buscavam para ouvir as demandas emocionais uns dos outros.
E quando as conversas eram ensaiadas, a falta de paciência e interesse permeava esse universo tão importante para a estruturação psicológica do ser humano.
Principalmente as crianças e jovens que necessitam dos pais como suas grandes referências e arrimos emocionais.
O ambiente familiar hoje é permeado por uma espécie de surdez onde só ouvimos dos nossos filhos aquilo que nos interessa.
Educamos como se tivéssemos a receita da felicidade para aplicar aos filhos.
Muitos pais acreditam que os filhos são como massa de modelar, nos quais eles aplicarão a fórmula exata para o comportamento que lhes atenda o modelo de cidadão correto, e que encontrará a felicidade.
Normalmente os pais procuram aplicar nos filhos os métodos educativos que deram certo com eles.
Evidentemente que essa realidade está muito longe de apresentar resultados matemáticos na construção de seres humanos felizes.
Grande parte das crianças e jovens desses dias, são aqueles órfãos emocionais que tem os pais dentro de casa, mas não os têm dentro da vida.
Quando uma criança, que não pode ser criança durante o dia porque estava ocupada na escola e com tantas outras atividades, procura os pais para brincar e os mesmos abdicam da experiência de adentrar o mundo dos interesses dela, e buscam entretê-las com celulares, tablets e coisas assim uma frustração visita o coração dos nossos filhos.
A interação emocional é fundamental para o desenvolvimento saudável dos pequenos.
Imagine você que é adulto o quanto é importante falar dos seus projetos para as pessoas mais relevantes do seu mundo, mas quando você as procura elas não lhe dão atenção.
É frustrante viver essa surdez seletiva, e é isso que fazemos com crianças e adolescentes, quando não ouvimos as coisas que se passam na cabeça e no coração deles.
E é dessa distância emocional que a orfandade dentro de casa acontece, e é desse vazio que os pais deixam na vida dos filhos que outros interesses vão ocupando espaço.
Os "influenciadores digitais de coisa nenhuma" ganham cada vez mais valor num espaço que deveria ser ocupado pela família.
É preciso que os pais parem de falar com seus filhos e passem a conversar para descobrir e saber quem são eles.
Muitas crianças e adolescentes são estrangeiros dentro de casa, porque os pais não ouvem o que eles dizem pelos lábios e pelo silêncio dos sentimentos adoecidos que causam mutismo.
A pandemia é um castigo, para quem deseja seguir vivendo alheio ao complexo universo das relações no lar atendendo apenas ao mundo dos interesses próprios fora de casa.
O ego dos pais promove uma surdez seletiva com frases, como essas:
"Cala a boca que você não sabe de nada! Aqui eu mando e você obedece!..."
Temos a geração dos pais surdos e os filhos mudos, porque com o tempo eles vão se afastando, até que uma dor como o suicídio toque como sino dentro da consciência para despertar os adormecidos pela indiferença.

Adeilson Salles 

PSICANALISTA EM FORMAÇÃO








2 comentários:

  1. O Pior é quando os pais convencem os filhos a escolherem uma profissão pela escolha financeira.
    Mesmo conversando com a minha afilhada, o que importa para ela é o dinheiro.
    No caso da dela que tem de 15 anos,a fotografia que ela ama, não vai ser sua profissão.
    Minha irmã já disse fotografia não dá retorno financeiro!
    Ela é a mãe.
    A minha afilhada de 27 não teve escolha, os pais dela tem uma empresa estável e teve que trabalhar lá.
    Ela já se acostumou e já se convenceu que não tem outra escolha.
    Penso será ambas que são felizes?

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  2. Triste realidade Adeilson, mas a maioria das familias estão nesta realidade! Que Deus nos ajude!

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